JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
Seu relógio biológico está errado. E não adianta culpar o horário de verão. A culpa, segundo os especialistas em cronobiologia, é da luz elétrica e do despertador.
Aumentamos a nossa noite ficando no computador e vendo TV, e diminuímos o tempo de sono com o despertador", afirma o fisiologista Fernando Mazzilli Louzada, professor da Universidade Federal do Paraná.
O resultado é a dessincronização entre os ciclos fisiológicos e os da natureza.
"Todas as funções orgânicas têm um ritmo de 24 horas e se ajustam ao dia e à noite", explica o professor Luiz Menna-Barreto, um dos coordenadores do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da USP.
Há hormônios que são mais produzidos durante o sono noturno. Dormir de dia não vale.
Estão nesse grupo a melatonina e o hormônio de crescimento, ambos com importantes funções reguladoras do metabolismo.
Trocar o dia pela noite acaba sendo um fator de risco. A Organização Mundial da Saúde já incluiu distúrbios dos ritmos biológicos entre os fatores cancerígenos.
"Enfermeiras que trabalham à noite têm dez vezes mais chances de ter câncer de mama", diz o pesquisador John Fontenele Araujo, do Laboratório de Neurobiologia e Ritmicidade Biológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
COMO LOBOS
Um descompasso entre os ritmos também aumenta o risco de doenças cardiovasculares e de obesidade.
"Pessoas com alterações no sono têm mudanças hormonais. Uma delas é a menor produção de leptina (relacionada com a saciedade)", afirma Eduardo Santos, professor de fisiologia da Universidade Federal de Goiás.
Deixando os hormônios de lado, a medicina indiana ayurveda diz que isso de estender a madrugada é contra a natureza humana.
"Não temos hábitos noturnos como lobos. Somos programados para viver de dia", diz Aderson da Rocha, médico e presidente da Associação Brasileira de Ayurveda.
"Acordar de manhã junto com o nascer do sol é essencial para a prática do ioga."
A cronobiologia, que é o estudo desses ritmos fisiológicos, influencia até a prescrição de medicamentos. "Aproveitarmos essas informações para potencializar o efeito de um remédio ou aumentar o cuidado com uma doença", diz Amouny Mourad, farmacêutica membro do Conselho Regional de Farmácia de SP.
Quem sofre de hipertensão ou de asma, por exemplo, deve tomar remédios de longa duração porque a maior parte das crises acontece à noite.
Calma, não é preciso madrugar para estar em sintonia com os ritmos biológicos.
O grande problema, de acordo com os especialistas, é a falta de regularidade nos horários do sono, a longo prazo. Ou pior ainda: a privação do sono.
"O trabalho faz com que as pessoas durmam menos ou não controlem seus horários", afirma Claudia Moreno, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Além disso, apesar de os hormônios serem os mesmos, sempre há diferenças individuais que também precisam ser respeitadas.
Há pessoas de hábitos mais matutinos e as vespertinas, que funcionam mais tarde. No horário de verão, são essas que mais sofrem.
O pesquisador Leandro Duarte comprovou isso em sua tese. "O fato de iniciarmos nossas atividades no escuro e terminarmos com o dia ainda claro confunde o relógio biológico. Os vespertinos sentem desconforto durante todo esse período."
Os sinais da falta de sono são cansaço e tentativa de recuperar tudo no fim de semana. Sintomas comuns, nesses tempos em que sincronizar ritmos biológicos à agenda não é fácil para vespertinos nem para matutinos.
Mas é possível negociar com o cérebro, segundo a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, colunista da Folha e professora da UFRJ.
"Nós podemos passar por cima do relógio biológico e escolher nossos próprios horários. A única coisa que não controlamos é o fato de que precisamos dormir todos os dias."
QUEM DITA O RITMO
CORTISOL
Aumenta a glicose no sangue, a pressão arterial e a energia. Mais produzido de dia, deixa o organismo em estado alerta
MELATONINA
Relacionada com a regulação do metabolismo, além de ter função antioxidante. Mais produzida à noite, sinaliza para o corpo que escureceu e ajuda a dar sono. Há remédios para dormir com o hormônio
TESTOSTERONA
Relacionado com o vigor físico e a libido. Em maior quantidade em homens, mas também é produzido pelas mulheres
TEMPERATURA
A temperatura central aumenta e diminui ao longo do dia. É um sinalizador do metabolismo, de mais ou menos energia
NEUROTRANSMISSORES
Liberados durante o dia todo, mas há horários de pico. O trio serotonina, adrenalina e endorfina aumenta a sensação de prazer
GH
O hormônio do crescimento, ou GH, é mais produzido no sono noturno. Ajuda a repor a massa muscular perdida e atua no funcionamento do metabolismo celular
DE SÃO PAULO
Seu relógio biológico está errado. E não adianta culpar o horário de verão. A culpa, segundo os especialistas em cronobiologia, é da luz elétrica e do despertador.
Quem dorme cada vez mais tarde, segue acordando cedo e atropela o relógio biológico; tire proveito dos ritmos corporais |
Aumentamos a nossa noite ficando no computador e vendo TV, e diminuímos o tempo de sono com o despertador", afirma o fisiologista Fernando Mazzilli Louzada, professor da Universidade Federal do Paraná.
O resultado é a dessincronização entre os ciclos fisiológicos e os da natureza.
"Todas as funções orgânicas têm um ritmo de 24 horas e se ajustam ao dia e à noite", explica o professor Luiz Menna-Barreto, um dos coordenadores do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da USP.
Há hormônios que são mais produzidos durante o sono noturno. Dormir de dia não vale.
Estão nesse grupo a melatonina e o hormônio de crescimento, ambos com importantes funções reguladoras do metabolismo.
Trocar o dia pela noite acaba sendo um fator de risco. A Organização Mundial da Saúde já incluiu distúrbios dos ritmos biológicos entre os fatores cancerígenos.
"Enfermeiras que trabalham à noite têm dez vezes mais chances de ter câncer de mama", diz o pesquisador John Fontenele Araujo, do Laboratório de Neurobiologia e Ritmicidade Biológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
COMO LOBOS
Um descompasso entre os ritmos também aumenta o risco de doenças cardiovasculares e de obesidade.
"Pessoas com alterações no sono têm mudanças hormonais. Uma delas é a menor produção de leptina (relacionada com a saciedade)", afirma Eduardo Santos, professor de fisiologia da Universidade Federal de Goiás.
Deixando os hormônios de lado, a medicina indiana ayurveda diz que isso de estender a madrugada é contra a natureza humana.
"Não temos hábitos noturnos como lobos. Somos programados para viver de dia", diz Aderson da Rocha, médico e presidente da Associação Brasileira de Ayurveda.
"Acordar de manhã junto com o nascer do sol é essencial para a prática do ioga."
A cronobiologia, que é o estudo desses ritmos fisiológicos, influencia até a prescrição de medicamentos. "Aproveitarmos essas informações para potencializar o efeito de um remédio ou aumentar o cuidado com uma doença", diz Amouny Mourad, farmacêutica membro do Conselho Regional de Farmácia de SP.
Quem sofre de hipertensão ou de asma, por exemplo, deve tomar remédios de longa duração porque a maior parte das crises acontece à noite.
Calma, não é preciso madrugar para estar em sintonia com os ritmos biológicos.
O grande problema, de acordo com os especialistas, é a falta de regularidade nos horários do sono, a longo prazo. Ou pior ainda: a privação do sono.
"O trabalho faz com que as pessoas durmam menos ou não controlem seus horários", afirma Claudia Moreno, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Além disso, apesar de os hormônios serem os mesmos, sempre há diferenças individuais que também precisam ser respeitadas.
Há pessoas de hábitos mais matutinos e as vespertinas, que funcionam mais tarde. No horário de verão, são essas que mais sofrem.
O pesquisador Leandro Duarte comprovou isso em sua tese. "O fato de iniciarmos nossas atividades no escuro e terminarmos com o dia ainda claro confunde o relógio biológico. Os vespertinos sentem desconforto durante todo esse período."
Os sinais da falta de sono são cansaço e tentativa de recuperar tudo no fim de semana. Sintomas comuns, nesses tempos em que sincronizar ritmos biológicos à agenda não é fácil para vespertinos nem para matutinos.
Mas é possível negociar com o cérebro, segundo a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, colunista da Folha e professora da UFRJ.
"Nós podemos passar por cima do relógio biológico e escolher nossos próprios horários. A única coisa que não controlamos é o fato de que precisamos dormir todos os dias."
QUEM DITA O RITMO
CORTISOL
Aumenta a glicose no sangue, a pressão arterial e a energia. Mais produzido de dia, deixa o organismo em estado alerta
MELATONINA
Relacionada com a regulação do metabolismo, além de ter função antioxidante. Mais produzida à noite, sinaliza para o corpo que escureceu e ajuda a dar sono. Há remédios para dormir com o hormônio
TESTOSTERONA
Relacionado com o vigor físico e a libido. Em maior quantidade em homens, mas também é produzido pelas mulheres
TEMPERATURA
A temperatura central aumenta e diminui ao longo do dia. É um sinalizador do metabolismo, de mais ou menos energia
NEUROTRANSMISSORES
Liberados durante o dia todo, mas há horários de pico. O trio serotonina, adrenalina e endorfina aumenta a sensação de prazer
GH
O hormônio do crescimento, ou GH, é mais produzido no sono noturno. Ajuda a repor a massa muscular perdida e atua no funcionamento do metabolismo celular
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